quarta-feira, 17 de outubro de 2007

Laringe VII- Histórico da Cirurgia da Laringe

Histórico

Na laringologia moderna dispõe-se de uma grande variedade de ferramentas para o diagnóstico e muitas modalidades diferentes e efetivas para o tratamento das doenças do trato aero-digestivo superior, incluindo o câncer da laringe .
Antigos médicos gregos da escola hipocrática identificaram a epiglote, sem contudo dar a ela esse nome. Eles a compararam com uma folha de hera e referiam que sua função era prevenir que o líquido entrasse na faringe .
O conceito de câncer , já um termo médico usado por antigos médicos,foi realmente descrito por Asclepiades da Bithynia ( atualmente Turquia). Ele introduziu o termo câncer porque observou que o tumor infiltrava e destruía os tecidos adjacentes de uma maneira semelhante ao caranguejo, quando destroçava sua vítima.
Galeno foi o primeiro a dar o nome à epiglote e ao nervo recorrente, quando descreveu experimentalmente a sua importância na criação da voz. Ele descreveu meticulosamente a anatomia da laringe e explicou sua função na respiração e produção da voz.
Oribasius, o primeiro eminente médico bizantino , fez um estudo anatômico e funcional intitulado “ On the larynx and epiglottis”. Descreveu as corda vocais e a sua importância na criação da voz.
Médicos bizantinos contribuíram consideravelmente na evolução da otorrinolaringologia e preservaram em seus textos descrições de importantes operações e tratamentos já realizados pelos antigos gregos e modificados por sua experiência .
Morgagni em seu artigo “Cancer of the larynx” reportou dois casos de carcinoma laríngeo. Entretanto a falta de ferramentas e conhecimentos histopatológicos da era os considerou como casos de doença crônica da laringe, como a tuberculose ou sífilis,doenças que representavam uma pandemia na Europa naquele tempo.
A invenção do laringoscópio na metade do século XIX foi considerada por muitas autoridades como o início da laringologia moderna. Tem sido sugerido repetidamente que foi Manuel Garcia quem inventou o laringoscópio . Ele visualizou a mobilidade das próprias cordas vocais com a introdução de um espelho na orofaringe. Com a ajuda de Charriere, um fabricante de instrumentais cirúrgicos, ele criou um sistema de dois espelhos ao qual chamou de laringoscópio .
Johann Nepamuk Czemark de Budapeste modificou a forma das duas lentes do instrumento inicial , usando uma lente côncava entre as arcadas dentárias e foi o primeiro a utilizar a luz artificial na laringoscopia .
A técnica da laringoscopia foi introduzida nos Estados Unidos em 1858 por Krackowizer, um imigrante austríaco em Nova York. Morell MacKenzie um famoso laringologista da época introduziu uma grande variedade de modalidades terapêuticas através da laringoscopia.
Alfred Kirsten foi considerado o primeiro a realizar o exame direto do interior da laringe.
No início do século XX, Killian inventou o laringoscópio de suspensão . Este aparelho era estabilizado no tórax do paciente e permitia uma melhor visualização do endolaringe.No século XIX a idéia da excisão total da laringe por tumor existia, mas não era colocada em prática, certamente pela ausência de agentes anestésicos.No século XIX , muitas doenças da laringe eram tratadas por instilações e cauterizações às cegas, embora Desault tenha descrito em 1810 uma técnica de laringotomia para a retirada de um corpo estranho fendendo a cartilagem tireóide .
Há pouco mais de 30 anos, comemorou-se o centenário da primeira laringectomia total por câncer. Foi no último dia de 1873 que o cirurgião alemão Theodore Billroth totalizou a retirada da laringe de um pregador religioso de 37 anos, que apresentava recidiva de um carcinoma que já havia sido tratado por meio de uma laringectomia parcial realizada no mesmo hospital, cerca de 40 dias antes. O paciente morreu sete meses depois por metástases cerebrais .
A primeira laringectomia total realizada com sucesso para o tratamento do câncer é atribuída a Enrico Bottini, de Turim, que em 1875 operou um paciente que sobreviveu por 10 anos após a cirurgia 22. Von Langenbeck foi creditado como o primeiro a realizar uma laringectomia à “wide - field”. O paciente sobreviveu por quatro meses.
Na América do Sul, a primeira laringectomia total bem sucedida foi realizada Poe Eugênio Cassanello, cirurgião uruguaio em 1886.
A história da laringectomia parcial data em uma década antes da laringectomia total, isso porque a laringectomia total era considerada por muitos como incompatível com a vida.
Henry Sands realizou em Nova York, em 1863, uma laringectomia parcial em uma paciente de 30 anos que não apresentou recidiva.
São da primeira metade do século XX as propostas que até hoje se aplicam na tentativa de tratar os tumores da laringe com ressecções parciais. Sir St. Clair Thomson elaborou vários trabalhos padronizando a técnica de laringofissura e em 1929 publicou o resultado de 70 casos tratados com 76% de sobrevida em três anos.
H. Gluck e J. Soerensen descrevem técnica para a hemilaringectomia na qual era retirada toda uma hemilaringe , da cricóide à cartilagem tireóide e o defeito era reparado por meio de retalhos cutâneos do pescoço que constituíam um laringostoma fechado em segundo tempo.
Justo M. Alonzo, de Montevidéu em 1939 realizou a primeira laringectomia supraglótica baseado em argumentos anatômicos e embriológicos.
Em 1957, J. Leroux- Robert padronizou a laringectomia frontolateral que consiste da excisão da comissura anterior por meio de uma ressecção triangular da cartilagem tireóide4,27.
Os princípios da laringectomia supracricóidea foram primeiramente descritos em 1959 por Majer e Rieder em Viena. A primeira experiência foi baseada em 6 pacientes com câncer glótico e supraglótico.
Em 1970 Arslan e Serafini publicaram quatro casos de câncer de laringe tratados com uma técnica similar, porém com a retirada da cartilagem cricóide. Como resultado a reconstrução era feita com a traqueohioidoepiglotopexia.
Em 1974, Piquet publicou a técnica de laringectomia supracricóidea com cricohioidoepiglotopexia (CHEP). Este foi o primeiro relato e o autor reportou uma série de 23 pacientes com carcinomas glóticos .
Em 1976, Piquet redefiniu as técnicas e as indicações de laringectomia supracricóidea com cricohioidoepiglotopexia (CHEP) e cricohioidopexia (CHP) em uma série de 61 pacientes .
Foi Laccourreye41 que difundiu na década de 90 a laringectomia supracricóidea com CHEP na América e no restante da Europa. Lefebvre e Chevalier também foram responsáveis por importantes publicações que ajudaram na divulgação da laringectomia supracricóidea como opção para o tratamento do carcinoma glótico.

quinta-feira, 4 de outubro de 2007

Laringe VI -Estadiamento TNM

TNM no Câncer de Laringe

A classificação é aplicável apenas ao carcinoma. Deve haver confirmação histopatológica da doença .
Os procedimentos para avaliação das categorias T, N e M são as seguintes :
- Categoria T : exame físico , laringoscopia e diagnóstico por imagem
- Categoria N : exame físico e diagnóstico por imagem;
- Categoria M : exame físico e diagnóstico por imagem.
Assim temos:
T = Tumor primário;
Tx = Tumor primário não pode ser avaliado
Tis = Carcinoma in situ

Supraglote
T1 = Tumor limitado a uma sub-localização anatômica da supraglote, com mobilidade normal da corda vocal;
T2 = Tumor invade a mucosa de mais do que uma sub-localização anatômica adjacente da supraglote ou a glote ou região externa à supraglote ( p. ex. , a mucosa da base da língua, a valécula, a parede medial do seio piriforme), sem fixação da laringe;
T3 = Tumor limitado à laringe , com fixação da corda vocal e/ou invasão de qualquer uma das seguintes estruturas ; área pós-cricóide, tecidos pré-epiglóticos, espaço para-glótico, e/ou com erosão mínima da cartilagem da tireóide ( p.ex. córtex interna);
T4a = Tumor que invade toda a cartilagem tireóide e/ou estende-se aos tecidos além da laringe, p. ex. , traquéia , partes moles do pescoço, incluindo músculos profundos/extrínsecos da língua ( genioglosso, hioglosso, palatoglosso e estiloglosso), alça muscular, tireóide e esôfago.
T4b = Tumor que invade o espaço pré-vertebral, estruturas mediastinais ou adjacentes à artéria carótida.

Glote

T1 = Tumor limitado a(s) corda(s) vocal(is) (podem envolver a comissura anterior ou posterior), com mobilidade normal da(s) corda(s)
T1a = Tumor limitado a uma corda vocal
T1b = Tumor que envolve ambas as cordas vocais
T2 = Tumor que se estende à supraglote e/ou subglote, e/ou com mobilidade diminuída da corda vocal
T3 = Tumor limitado à laringe, com fixação da corda vocal e/ou que invade o espaço paraglótico, e/ou com erosão mínima da cartilagem tireóide ( p.ex. córtex interno).
T4a = Tumor que invade completamente a cartilagem tireóide, ou estende-se aos tecidos além da laringe, p.ex., traquéia , partes moles do pescoço,incluindo músculos os profundos/ extrínsecos da língua ( genioglosso, hioglosso, palatoglosso e estiloglosso), alça muscular, tireóide e esôfago.T4b = Tumor que invade o espaço pré-vertebral, estruturas mediastinais ou adjacentes à artéria carótida .
Subglote

T1 = Tumor limitado à subglote
T2 = Tumor que se estende à(s) corda(s) vocal(is), com mobilidade normal ou reduzida
T3 = Tumor limitado à laringe, com fixação da corda vocal
T4a = Tumor que invade a cartilagem cricóide ou tireóide e/ou estende-se a outros tecidos além da laringe, p.ex., traquéia , partes moles do pescoço, incluindo músculos profundos /extrínsecos da língua ( genioglosso, hioglosso,palatoglosso e estiloglosso), tireóide e esôfago.
T4b = Tumor que invade o espaço pré-vertebral, estruturas mediastinais ou adjacente à artéria carótida.

Linfonodos Regionais Cervicais

Nx = linfonodos regionais não podem ser avaliados;
N0 = ausência de metástase em linfonodos regionais;
N1 = metástase em um único linfonodo ipsilateral, até 3 cm em sua maior dimensão;
N2 = metástase em um único linfonodo homolateral, com mais de 3 cm até 6 cm em sua maior dimensão ; ou em linfonodos homolaterais múltiplos, nenhum deles com mais de 6 cm em sua maior dimensão; ou em linfonodos bilaterais ou contralaterais, nenhum deles com mais de 6 cm em sua maior dimensão.
N2a = metástase em um único linfonodo homolateral, com mais de 3 cm até 6 cm em sua maior dimensão;
N2b = metástases em linfonodos homolaterais múltiplos, nenhum deles com mais de 6 cm em sua maior dimensão;
N2c = metástase em linfonodos bilaterais ou contralaterais, nenhum deles com mais de 6 cm em sua maior dimensão.
N3 = metástase em linfonodo com mais de 6 cm em sua maior dimensão.

M = Metástase à Distância

Mx = a presença de metástase à distância não pode ser avaliada
M0 = ausência de metástase à distância
M1 = metástase à distância

Estádio 0 Tis N0 M0
Estádio I T1 N0 M0
Estádio II T2 N0 M0
Estádio III T1,T2 N1 M0 ;T3 N0,N1 M0
Estádio IVa T1,T2,T3 N2 M0 ;T4a N0,N1,N2 M0
Estádio IVb T4b Qualquer N M0 ;Qualquer T N3 M0
Estádio IVc Qualquer T Qualquer N M1

Grupamento por Estadios de Pacientes com Carcinoma de Laringe
segundo a Classificação TNM AJCC 2002
Fonte: TNM Classificação dos Tumores Malignos - AJCC 6ª ed.